sexta-feira, outubro 10, 2008

NÃO HÁ SAÚDE SEM SAÚDE MENTAL

Reproduzo trechos do artigo "NÃO HÁ SAÚDE SEM SAÚDE MENTAL", de Jair de Jesus Mari, publicado na Folha de S. Paulo (10/10/2008):
. "Adoecer faz parte da condição humana. Quando alguém adoece, é natural que receba afeto, simpatia e compreensão para superar o problema. Mas o mesmo não acontece quando essa pessoa adoece por um transtorno mental. A doença, nesse caso, pode ser interpretada como sinal de fraqueza, de autoflagelo, de covardia. Adoecer psiquicamente não é prerrogativa da modernidade. É tão humano quanto nascer ou morrer. O transtorno mental não escolhe nem cor de pele nem classe social. Quantos reis e rainhas fazem parte dessa lista? Quantos artistas consagrados que conseguiram realizar grandes obras apesar de seus tormentos? Que sofrimentos não experimentaram Van Gogh, Virginia Woolf e Vladimir Maiakóvski?"
. "A estimativa é que 25% da nossa população adulta irá exigir algum tipo de cuidado de saúde mental no espaço de um ano. (...) Os transtornos mentais são responsáveis por 18% da sobrecarga global das doenças no país, mas contam com 2,5% do orçamento da saúde".
. "Que todo desvalido e marginalizado tenha seus direitos contemplados. Que todo sujeito com problema, independentemente de cor, classe e diagnóstico, tenha direito à liberdade, ao respeito e à dignidade que façam dele um semelhante, apenas diferente".

Meu desejo, difícil desejo, é que as igrejas continuem sendo lugares onde os diferentes sejam tratados como semelhantes. Reconheço que não é fácil tê-los conosco, em nossos cultos, em nossas classes, em nossos passeios, em nossos ministérios. Reconheço também que das organizações sociais as igrejas são as que melhor os tratam. No entanto, espero mais: que possamos contribuir para a sua saúde.

Por outro lado, penso que a religião é um refúgio saudável para os doentes mentais e, ao mesmo tempo, um obstáculo para sua cura. Eles, e junto com eles os líderes, nem sempre têm a percepção que doença mental é doença e quem tem uma doença precisa de tratamento profissional, digno e humanizante. Tudo começa com o reconhecimento da doença.

Os que têm a responsabilidade de pastorear devem saber que talvez um quarto de sua membresia sofre algum tipo de transtorno mental.

Aprendi sobre isto assim. Numa oração, fiz menção à depressão. Não sei o que eu disse, mas deve ter sido algo muito infeliz, porque um psiquiatra da igreja me procurou e disse:

-- Israel, depressão é uma doença.

Então, fui estudar o assusnto. O resultado foi uma série de sermões, que virou um livro (DIANTE DA DEPRESSÃO. Niterói: Impetus, 2004).

Nossa responsabilidade, como pregadores, é maior que imaginamos.

E isso alcança aquele que está assentado ao lado de alguém que é semelhante, embora seja diferente, por causa de sua enfermidade emocional.