sábado, fevereiro 23, 2008

XAVIER: UMA DESPEDIDA (23.2.2008)

Em setembro de 2007, depois de voltar do hospital a que nos chamou para se despedir, escrevi um soneto, que nunca publiquei. Faço agora, apenas com uma alteração atualizadora.

XAVIER: UMA DESPEDIDA (23.2.2008)

Do meu irmão Xavier também me despedirei
agora que seu corpo foi pela morte calado
por sua vida ao Deus que é bom celebrarei
embora não possa ver seu rosto de sorrisos timbrado.

O que nesta hora de silêncios direi,
senão que seu ritual de espera foi um brado,
não de revolta, porque sempre o guardarei
como ato de um coracao ao Pai todo consagrado?

A mim, mesmo com o que aprendi, ainda perguntarei
se conservarei a mesma convicção ardente
de ser amado pelo Pai tão verdadeiramente.

Agora no meu coração eu lhe escreverei
esta lápide como meu próprio mote:
"Xavier vida que soube ser exemplo na morte.
É assim como ele que quero preparado me ver".

Não publiquei porque, como todos os seus amigos, mesmo contra esperança, tinha esperança.
Na época escrevi, explicando-me a não publicação.

Seu epitafio ainda não escreverei:
vá que a Trindade se mostre palhaça
e adie o encontro como uma travessura da graça.

Eu estava certo em não publicar. A Trindade, travessa, adiou sua chegada aos páramos celestes por cinco meses. Bem que queríamos mais.

CLENIR

No culto de gratidão a Deus pela vida do Xavier, li o soneto que agora transcrevo.

CLENIR

Choramos um gigante que tombou
deixando raízes de imensa largura,
graças à esposa que na vida encontrou:
Clenir, que sempre esteve à sua altura,

Clenir, que Xavier conheceu ainda mais na dor
e nós vimos entre os dois forescendo a ternura
de um casal que verdadeiramente se amou,
formando da Graça uma linda iluminura.

Muitas graças damos pelo grande Xavier,
para quem a Trindade, e só ela, agora sorri
e ele, diante de tanta glória, derrama-se em prazer.

Muitas graças damos pela grande Clenir,
porque sem esta giganta não haveria Xavier,
certos de que sem Xavier não haveria Clenir.

(23.2.2008)

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

XAVIER, 22.2.2008

Terminou.
Em lágrimas, escrevo.
Acaba (por volta das 18h30min do dia 22.2.2008) de entrar na sua casa final (para onde vou também) o meu amigo Xavier.
Liguei para Clenir, sua esposa, mas ela não atendeu. Daqui a pouco, ela me retornou. Eu chorava e ela se mostrava firme, dizendo que tinha acabado a luta.
Foi intensa a luta e terminou na vitória da morte. Não temos como ver a morte senão como derrota, porque ela nos separada. Nunca mais verei o meu amigo (sim, ele era meu amigo desde quando convivemos na Igreja Batista Itacuruçá e depois, ele como meu aluno, no Seminário). Nunca mais ele me aconselhará (sim, ele era meu conselheiro). Nunca mais escutarei seus sermões, bem-humorados e muito profundos.
Para mim, uma derrota. Para ele, uma vitória.
Ele foi digno do Evangelho na vida e digno do Evangelho na morte. Mesmo alcançado pela desgraça do câncer, não deixou de achar que Deus é bom.
Para ele, uma vitória, porque agora (com corpo novo, sem tumor, com corpo eterno, jamais corruptível), já ouviu a inolvidável frase: "entra no gozo do teu Senhor". Frase dita pessoalmente pelo próprio Senhor. Tinha razão o incrível Paulo: "nem a morte nos separa do amor de Cristo".